Cartografia da autodescoberta: A obra íntima de Marina Schroeder
por Nathalia Cruz
Uma das facetas de Marina Schroeder que se apresentou a mim, inicialmente, foi a de uma arquiteta responsável pela produção de casamentos grandiosos. E como alguém que trabalha orquestrando os bastidores durante meses, imagino a "Marina artista" por trás da profissional de eventos como uma presença sutil, uma observadora essencial, conhecedora profunda da intimidade das pessoas. Estava tão próxima que passava despercebida, um cenário perfeito para o que viria a seguir.
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Tenho para mim que o exercício de observação, em si, era o início de um processo artístico que, juntamente com sua prévia experiência em pintura e seus estudos em arte contemporânea, levaram Schroeder a desafiar-se e a arriscar algo diferente.
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Um novo ponto de criação surgiu com a retomada de sua prática artística iniciada nos anos 90 e voltada somente à pintura. No entanto, agora de forma mais ousada, em consonância com uma visão diferente de si mesma e do mundo, na qual, assim como em seu exercício introspectivo e reflexivo de observação nos eventos, buscava estratos ocultos que direcionariam sua criação em busca da autenticidade e da autopercepção, sendo a pintura apenas mais um dos meios dessa investigação.
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No cerne da trajetória de Schroeder, emergiu a intimidade como elemento central de sua pesquisa, revelando-se como um dos caminhos possíveis para acessar a essência do ser. Marina passou a investigar os territórios inexplorados da intimidade - a sua e a dos outros - buscando ir além das superfícies aparentes. Tome-se por superfícies: paredes, peles, telas, colônias de fungos etc. Micro e macro contêineres de organizações de vida que coabitam nosso cotidiano, mas nem sempre são vistos a olho nu ou pela consciência.
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De forma simbólica, a sintaxe desses elementos retrata o questionamento da superfície. Há uma pergunta central sobre o que é o humano, qual é o limite, a fronteira do ser. E parece que sempre que a artista encontra essa fronteira, há um deslocamento, uma expansão, uma mudança de perspectiva, que visa incitar o espectador a explorar sua própria complexidade e a abraçar suas inquietações.
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Cada obra que emerge dessa prática artística torna-se um fragmento de uma cartografia íntima de descobertas.
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Além disso, uma característica distintiva de seu trabalho atual é a diversidade de mídias utilizadas. A artista manipula uma variada gama de formas de expressão, desde pintura, desenho em nanquim, pastel, caneta esferográfica, carvão, até fotografia, objetos e ações artísticas. A experimentação com materiais como gesso, por exemplo, adiciona uma dimensão tátil e tridimensional às suas criações, resultando em uma riqueza sensorial e conceitual. Cores vibrantes, formas orgânicas e texturas variadas resultam de um processo de criação enraizado na busca pela delicadeza, de modo que a artista crie um espaço acolhedor para tornar sua obra um lugar semântico propício à contemplação e à transformação pessoal.
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Para além das palavras, a obra de Marina Schroeder nos convida a vivenciar uma experiência poética capaz de despertar reflexões sobre nós mesmos e nosso lugar no mundo. Sua voz ressoa como um chamado para explorar além da superfície de nossas vidas cotidianas, relembrando-nos da importância da arte como um meio de revelar e fortalecer nossa conexão com a realidade interior e transcender.
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Nathalia Cruz | julho 2023